Arqueologia Colonial



O patrimônio arqueológico compreende a porção do patrimônio material para a qual os métodos de arqueologia fornecem conhecimentos primários. Engloba todos os vestígios da existência humana e interessa todos os lugares onde há indícios de atividades humanas, não importando quais sejam elas, estruturais e vestígios abandonados de todo tipo, na superfície, no subsolo ou sob as águas, assim como o material a eles associados. (Carta de Lausanne: 1990). A compreensão do que seja patrimônio cultural arqueológico na cidade esta intimamente ligado a questão da memória dos fazeres e da própria construção da cidade, de modo que para entende-la é preciso mais que uma disciplina, é preciso uma relação transdisciplinar, que pode ser encontrada no escopo arqueológico, como é feito em países como Roma, Grécia, países árabes, europeus em geral , onde os arqueólogos atuam de forma vigorosa na investigação dos rumos da construção das cidades.

Labarrière(1992: 15-24)[1]em a obra de reflexão que compete ao filósofo e que decide sobre o seu lugar na cidade exige dele o que Hegel chama de a fadiga do conceito, die Anstrengung des Begriffs.Os antigos, na tradição ocidental chamavam isso como belo nome de otium. Requer-se amiúde coragem para se separar do imediato e do interesse apaixonado frequentemente suscitado por ele, para tomar a suficiente distancia necessária ao exercício da reflexão, e para conduzir as pesquisas que se impõem a quem quer julgar seriamente as coisas, respeitando-as na sua especificidade. É certo que a conjugação de capacidades pode trazer vantagens maiores e a conjugação de esforços levar à sua multiplicação quando conduzidos com harmonia com outros, nada, contudo, dispensará fadigas  que cada um compete carregar na solidão e no recolhimento. O problema jamais resolvido consiste em saber dosar, em cada ocasião, essas exigencias do pensamento e as suscitadas pela experiência de uma plena convivência com os outros.
 
Entretanto, porém, cabe observar que a reflexão para conduzir pesquisas na cidade, em especial em bens arqueológicos históricos, não encontra suficiente distancia necessária ao exercício da reflexão, uma vez que ao encargo dos órgãos de preservação, muitas vezes dominados por dirigentes de escolhas políticas e  arquitetos de pouca envergadura teórica, não compartilham com a conjugação de capacidades de outras disciplinas como a arqueologia, antropologia e a história  ignorando os esforços de levar a multiplicação do conhecimento e das opções de uso, preservação e revitalização.
 
O que podemos concluir no Brasil, salvo raras exceções, é que na contramão das tendências internacionais, o arqueólogo que pensa políticas públicas, e neste plano é inevitável uma solidão do pensamento. Ocorre que o pensamento que inova num movimento único e duplo(de ida e volta), e que não teme submeter todas as coisas à mediação da linguagem e da práxis, não poderá evitar, mais cedo ou mais tarde, o desconforto das suspeitas, e a injustiça das condenações. Também neste plano é inevitável a solidão do pensamento. Pois, esforçando-se por viver no presente, o arqueólogo público, não se submete ao que este ainda comporta de imediatidade: ele pretende ser, em qualquer hipótese, homem aberto a tudo, atento a descobrir, na banalidade dos dias, a urgência dessas verdadeiras inovações que são sempre a marca do espírito público.


[1]O Filósofo na Cidade. Não melhor que teu tempo, mas teu tempo do melhor modo. Labrrière, Pierre-Jean